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Marchas de Lisboa 2009

Texto e Fotos de: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com
Junho de 2009

 

Esta reportagem só foi possível, mais uma vez,  graças ao gentil apoio dado ao nosso portal pelas firmas da nossa praça, Accord Travel, Ganadaria Sol e Toiros, Homelife/Local, Macedo Wine Grape Juice, Restaurante New Casa Abril, Toledo Printing & Design, Joseph Vieira Insurance, Europa Catering e Santos Water Service and Drain. Aqui ficam os nossos agradecimentos ao José Ilídio Ferreira, Linda Caldas, Élio Leal, Luís Lima, David Macedo, Januário de Barros, Lynda Matias, Joseph & Patrick Vieira, Manuel Paulos e Silvério Paulo Santos. Para todos estes nossos patrocinadores, um muito obrigado.

Quem é que ainda não ouviu falar nas Marchas Populares de Lisboa? Muito poucos, pensamos, e não é necessário ser nativo da capital do nosso país pois a grande maioria dos seus habitantes até não nasceram  nesta  cidade. Segundo apuramos recentemente, o primeiro concurso destas conhecidas e apreciadas marchas populares, realizou-se no ano de 1934 numa iniciativa dos jornais Diário de Lisboa e Notícias Ilustrado tendo como primeiros participantes os bairros de Alfama, Madragoa, Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique, tendo sido esta última a primeira classificada naquele distante ano de 1934. Mais iniciativas se seguiram de marchas nos anos de 1935, 1940, 1947, 1950, 1952, 1955, 1958 e de 1963 a 1970, tendo, a partir desta data, havido um interregno de dez anos, para naquele ano de 1980 até 1983 dar-se continuidade até aos nossos dias. Este ano Lisboa mais uma vez se agalanou com as suas ruas, becos e pátios decorados  a preceito com arcos, balões, bandeiras de papel com muitas cores e de pequenos vasos de manjericos enfeitando janelas, varandas e beirais para festejar o seu patrono, o Santo António de Lisboa,  cuja data, do seu falecimento no ano de 1231, o 13 de Junho, foi votado pela edilidade lisboeta, feriado municipal.

O presidente da Região Autónoma dos Açores, Carlos César e a esposa, no momento em que abandonavam a tribuna onde assistiram à passagem das Marchas Populares de Lisboa. Nas mãos levava o vaso com os manjericos ofertado momentos antes

Este nosso santo, nascido na cidade de Lisboa em 15 de Agosto de 1195, é também muito querido dos italianos, que até nos querem “roubar”, sendo chamado, por eles, de Santo António de Pádua, pois foi nesta cidade que Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo, o nome de baptismo deste nosso santo, foi sepultado. Um ano depois, em 30 de Maio de 1232, foi canonizado pelo então Papa Gregorio IX. A sua imagem é apresentada envergando o traje dos frades menores e segurando o Menino Jesus.

Os manjericos armazenados perto da trinuna de honra para serem distribuidos pelas diversas individualidades presentes

No presente ano Lisboa mais uma vez vibrou com os desfiles destas tão celebres marchas tendo o primeiro lugar, uma vez mais para o bairro de Alfama juntamente com o Castelo. Dizemos mais uma vez pois Alfama tem vindo arrebatar os primeiros lugares desde 1999 com duas excepção, em 2001 que obteve um honroso segundo lugar e no ano de 2002 onde apenas alcançou um quinto lugar na classificação geral. As Grandes Marchas de Lisboa, que foi apresentada pela primeira vez em 1935, é um trabalho de música e letra a ser obrigatoriamente apresentado nas exibições e no desfile e que é seleccionado anualmente neste concurso festivo da cidade de Lisboa e mais recentemente, desde 2003, pela Egeac.

A Marcha Oficial das Sanjoaninas 2009 estiveram presentes na Avenida
da Liberdade nesta noite de Santo António

É a segunda vez que o nosso semanário, O Post Milénio, tem, graças ao apoio dum pequeno grupo de firmas desta nossa praça de Toronto, um enviado especial para a cobertura destas festas da cidade de Lisboa que testemunhamos ser uma das mais participadas do calendário festivo em todo o território nacional. São praticamente dois meses repletos de programas culturais desde o jazz, fado, marchas populares, teatro, festivais de concertinas, semanas das casas regionais, arraiais populares e de “pride”, os casamentos de Santo António, cinema, festival/encontro de bandas para jovens músicos, concertos por artistas de renome como foi neste ano com Jorge Palma, fado nos eléctricos que circulam nalgumas rotas da capital, exposições de arte e outras muitas actividades que durante parte dos meses de Maio, Junho e Julho cativam os apreciadores desta forma de celebrações da cultura desta cidade milenar que muito orgulhosamente chamamos de LISBOA.

Carlos César e esposa confraternizam com outros elementos presentes

Dizemos que vale a pena visitar, nesta época do ano, esta forma de expressão cultural que nos  é oferecida, na sua maioria gratuitamente, na capital do país. É de mais valia e é de não se perder esta oportunidade que nos é oferecida pelo pelouro de cultura da Câmara Municipal de Lisboa através da já referida Egeac. Podemos também, sem incorrer em erro, de afirmar ter sido uma das mais participativas festas da cidade de Lisboa, pelo menos no que concerne aos desfiles das marchas populares na Avenida da Liberdade, no dia 12  de Junho, que, segundo os entendidos atraiu mais de trezentos mil pessoas. Mas não eram só os nossos cidadãos que encheram as bancadas ou lotavam o trajecto desde a Praça do Marquês de Pombal até aos Restauradores para apreciar e aplaudir as marchas de sua preferência que desfilaram consecutivamente desde as 21.30 até às 2.15 horas da madrugada nesta  noite de festa e alegria. Muitos eram os estrangeiros que se misturavam na multidão, como alemães, irlandeses, espanhóis, gregos, ingleses, malteses, brasileiros e muitos outros que olvidamos neste momento.  Desde há uns anos para cá que estas festas culturais de Lisboa vêm sendo animadas pela Egeac, uma entidade que tem a seu cargo a animação de rua num projecto da Câmara Municipal de Lisboa  numa aposta na divulgação das festividades na nossa capital que para os mais optimistas já há muito que ultrapassou as fronteiras do nosso espaço físico.

Madalena Iglésia uma cantora de grande cartaz nos anos 60 também não faltou
à sua noite de Marchas Populares

Este ano foram 23 marchas populares das quais apenas três foram participativas enquanto todas as outras estavam a concurso e, confessamos que, desde a nossa presença, foram as marchas que mais apreciámos tanto no sector do trajar, música e coreografia que pensamos ter sido um trabalho exaustivo e difícil para o júri seleccionar as marchas vencedoras tudo pelo excelente trabalho apresentado no concurso do presente ano.  Assin neste ano de 2009 das 23 marchas participantes, como já trás foi referido, só três foram participativas (a Marcha Oficial das Sanjoaninas de 2009, que pela primeira vez esteve presente nestas festividades, a Marcha Infantil da “Voz do Operário” e a Marcha dos Mercados, e que não entraram no concurso).

Outro grande nome do mundo do Fado, a fadista Cidália Moreira

No que respeita á Voz do Operário, foi o ano comemorativo dos seus 130 anos de actividade e que reviveram profissões praticamente extintas que eram os ardinas e as vendedoras de fava-rica, um tema de profissões e pregões da vida lisboeta do passado que devido ao desenvolvimento nestes últimos 35 anos, após a Revolução dos Cravos, desapareceram do quotidiano da vida de Lisboa, embora muitos jurem não as terem esquecido. A presença da Marcha Oficial das Sanjoaninas 2009, da cidade de Angra do Heroísmo, da ilha da Terceira, do Território Autónomo da Região dos Açores, foi obra de parceria entre entre a Egeac e o Secretariado do Turismo dos Açores, sendo esta marcha composta por 60 elementos e que abriram o desfile das marchas na Avenida da Liberdade naquela noite. Esta Marcha Oficial abriu a noite oficial das Sanjoaninas, naquela cidade açoriana, na passada Sexta-feira, dia 19 de Junho, e que são festas bem conhecidas em louvor de São João Baptista, santo patrono daquela cidade e que também, de ano para ano, vem atraindo cada vez mais forasteiros a estas festas. Esta  marcha oficial cantou as líricas de Francisco Gomes, para muitos conhecido, naquela ilha do Atlântico, pela alcunha do “Batata”.

Uma das Marchas actuando defronte da tribuna de honra

As Sanjoaninas tem como tema oficial “ A Festa do Sol”, dedicada ao rei Sol e á alegria de viver, com todos os seus membros trajando de laranja e dourado que é uma referência aos 475 anos de elevação de Angra do Heroísmo a cidade. Estas marchas oficiais exibem-se sempre nas cidades de Angra e da Praia da Vitória, nas festas oficiais destas cidades sendo um dos seus principais compositores o bem conhecido Carlos Alberto Moniz, um nativo daquela região insular e que este ano decorreran desde o dia 19 de Junho até ao dia 28 daquele mesmo mês com um extensivo cartaz festivo e que de ano para ano vem atraindo mais e mais turismo. Na bancada de honra daquele evento na Avenida da Liberdade além do presidente da edilidade de Lisboa, António Costa, encontravam-se presentes o Dr. Carlos César, presidente da Região Autónoma dos Açores e sua esposa (a quem foi ofertado, durante este evento, os “célebres” vasos de manjericos), o compositor Carlos Alberto Moniz e os nomes bem conhecidos do nosso mundo artístico como Madalena Iglésia, Argentina Santos, Celeste Rodrigues (irmã da saudosa Amália Rodrigues), o guitarrista António Chainho  e da Cidália Moreira que tivemos a honra de conhecer pessoalmente. Seria estafante falarmos dos temas e vestes de todas estas marchas pelo que iremos apenas mencionar as duas vencedoras, a de Alfama e do Castelo. A primeira que numa homenagem a Lisboa, de preto e branco (as cores que formam a bandeira desta cidade) com as cores de ouro e prata e os corações vermelhos, pelo amor que nutrem à sua cidade, onde a elegância dos homens se aglutina com as mulheres do povo, de aventais estampados nas suas vestes e com as estrofes líricas e música por Carlos Mendonça e Carlos Dioniso:

Vai a marcha iluminada
Sacudida, afinada
Ouro e prata a brilhar.
Sol e Lua ao despique
Para ver qual é mais chique
Sem nunca perder o tique
De ser marcha popular
Vai a marcha e diz ao Sol:
Não te armes em farol
A iluminar a Rua, Porque hoje eu p’ra brilhar
Vou nas ruas desfilar
Mas de noite à luz da Lua.

 

A Marcha do Castelo, também partilhou o primeiro lugar com Alfama, com um cenário axadrezado por derrotas e vitórias. Isto transporta-nos para um cenário dum tabuleiro de xadrez onde os mercadores, o rei e a rainha, as torres e os bispos, os cavaleiros e os aguadeiros bem como a homenagem a Gil Vicente, ao Santo São Jorge, a realeza, a vitória, a homenagem a Lisboa no preto e branco e aos feitos dos portugueses e das suas conquistas. Tudo isto embaralhado numa excelente coreografia que arrancou extensas ovações do publico. As líricas musicadas de autoria de Maria José Praça e Filipe Neves as deixamos aqui:

Tem memórias de princesas
Bastardos, luares d’amores
Confessores, régios, doutores
Bobos tocando tambores

E tem marchas, manjericos
Alcachofras e balões
Sardinheiras nos postigos
Fogueiras os corações

 

Uma referência especial da nossa parte para a marcha da Baixa, onde é destacada a cultura e o Sol de Lisboa, onde as personagens masculinas trajando de fato preto, ou branco, e chapéu exactamente como o grande poeta da língua portuguesa, Fernando Pessoa, um cidadão que, em vida, frequentava os cafés da Baixa de Lisboa.
Muitos eram as personagens da vida artística portuguesa que integravam as marchas populares como padrinhos e madrinhas dentro dos muitos destacamos a cançonetista Anita Guerreiro e o actor João de Carvalho. 
O segundo lugar do concurso foi igualmente partilhado pelas marchas da Madragoa e de Marvila e o nono lugar entre Carnide, Santa Engrácia, Graça e Alto Pina. Distinções honrosas para as marchas da Madragoa, Beato e Castelo pelo melhor figurino e no campo da coreografia foi entregue ao Castelo e Bairro Alto. A melhor letra foi atribuída à marcha de Marvila, Mouraria e Beato. Ao bairro de Alfama que vem acumulando vitórias sobre vitórias nestes dez anos foi-lhe atribuído a honraria do melhor desfile e musicalidade.

A fadista Argentina Santos lá estava na bancada de honra

Após as marchas terem passado pela Avenida foi a vez dos bairros tradicionais de Alfama, Mouraria, Madragoa, Bairro Alto, Campolide, Campo de Ourique, Castelo e Graça de continuarem as festas nos seus pátios, casas de pasto, tasquinhas, tabernas e restaurantes e até nas casas de milhares de moradores da capital que festejam o dia do seu santo padroeiro, o Santo António de Lisboa, e onde tradicionalmente milhares de foliões degustam sardinha assada, pão de milho ou broa, e outros petiscos, acompanhado de vinho tinto, até ao raiar do dia, tudo isto com boa música de marchas do passado inesquecíveis como a do Bairro Alto, Santa Catariana, Benfica e muitas outras que ficaram registadas a letras d’ouro na musicalidade bairrista da capital..
Estão de parabéns os pelouros de cultura da Câmara de Lisboa e a Egeac pelo êxito alcançado no programa festivo do corrente ano de 2009 e que não se quedou apenas pelas marchas populares mas também por um extenso programa dos meses de Maio, Junho e Julho que, nestes últimos que cinco anos, tem vindo a ressuscitar o rico património cultural da capital portuguesa, Lisboa.
Sobre a nossa opinião ficamo-nos por aqui pois honestamente confessamos que foi das melhores festas de marchas populares que participámos  alguma vez. Pensamos ter sido uma tarefa bastante difícil para o júri seleccionar os vencedores e a prova dos noves está patente nos muitos empates na classificação dos concorrentes.
Cremos que os habitantes de Lisboa não irão deixar morrer esta tradição secular de festejar o seu Santo António, e que irão preservá-la e disseminá-la às gerações vindouras. É tradição e está, pelo que testemunhámos, bem enraizada nas suas gentes nas manifestações culturais nestas marchas populares, etnografia, na gastronomia, nos concertos de jazz, de concertinas, nas sessões de fado no Castelo e nos eléctricos e nos casamentos de Santo António que faz este ano precisamente 50 anos que se iniciaram.

Classificação da Marchas Populares realizadas neste ano de 2009:

  1. Alfama e Castelo
  2. Madragoa e Marvila
  3. Bairro Alto
  4. Bica
  5. Alcântara
  6. Olivais
  7. Mouraria
  8. Beato
  9. Alto do Pina, Carnide, Graça e Santa EngráciaBeato
  10. Baixa e Lumiar
  11. S. Vicente
  12. Bela Flor
  13. Belém
  14. Campolide

Cronologia dos vencedores do Concurso das Marchas
Populares de Lisboa desde 1991:

1990 - Alfama
1991 - Madragoa
1992 - Bica
1993 - Alfama
1994 - Madragoa
1995 - Marvila
1996 - Alfama
1997 - Alfama
1998 - Alfama
1999 - Alfama
2000 - Alfama
2001 - Marvila
2002 - Marvila
2003 - Bica
2004 - Alfama
2005 - Alfama
2006 - Alfama
2007 - Alfama

Sobre a Grande Marcha de Lisboa vencedora neste ano de 2009 tem por título “Lisboa é uma Festa”, é de autoria do artista José Reza um nativo de Lisboa mas que passou parte da sua juventude no Tojal/Loures. Sem ser profissional nesta actividade no mundo artístico este elemento é bem conhecido do público pelas suas composições e poemas e também como um exímio cantor das suas músicas e da sua poesia. Este ano concorreu em parceria com Joaquim Isqueiro tendo sido o grande vencedor. Ao que  nos consta  esta marcha foi dedicada à memória da saudosa fadista Fernanda Baptista, a madrinha honorária da marcha da Madragoa, de quem José Reza era amigo e admirador. Aqui deixamos as suas líricas  bem bonitas por sinal e que acompanhámos cantarolando enquanto as marchas desfilavam à nossa frente e defronte da tribuna dos convidados. É de fixar o nome da nossa Diva do fado, Amália Rodrigues, que tem três vezes o seu nome mencionado nasquelas lirícas. Anos após a  partida do nosso convívio, Amália continua a viver bem dentro dos corações da nossa gente e por todos considerada “Rainha” da canção nacional, o Fado.

LISBOA É UMA FESTA
Letra de José Reza e Joaquim Isqueiro e música de José Reza

No céu bailam gaivotas
Por cima de uma canoa
O Castelo abre as portas
É smpre festa em Lisboa
E Amália tão bem cantou
No fado nossa cidade
E até Tejo marchou
Ao descer a Liberdade

Bem daí menina
Tua marcha é esa
Num balão acesso
Lisboa é uma festa

Vem daí rapaz
Não marches à toa
E traz um amigo
Que queira contigo
Abraçar Lisboa

Há um palco em cada rua
Onde o povo é sempre artista
Lisboa é uma festa
Cantando numa Revista
Se Amália cá estivesse
Marchava na Avenida
Pois o povo não a esquece
Sua voz nunca é esquecida

REFRÃO
Lisboa lembra o passado
Há festa cheira a sardinha
Faz reviver o Chiado
E a minha alma alfacinha
Lisboa de antigamente
Onde Amália era rainha
Cantando p’ra toda a gente

 

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